O DISCURSO NEOLIBERAL E A LÓGICA DO CAPITAL
Quando pensamos em neoliberalismo, em meio à tanta evolução evidenciada nesse século, questionamentos a respeito de como o discurso neoliberalista vem se mantendo ao longo do tempo, são recorrentes, diante da complexidade vivida na atualidade.
Silva Júnior (2020), observa e descreve essa complexidade sob três lentes: a cultura, a sociedade e a história.
Na cultura, o autor se apoia no pensamento foucaultiano, ao nos apresentar elementos fundamentais para entendermos a lógica do discurso neoliberal, de subjetivação do indivíduo, objetificando-o em função do trabalho. É a lógica do capital utilizada para a fabricação do sujeito-empresa.
A lente da sociedade, ao focalizar o texto apresentado por Hélio Pellegrino, citado por Silva (2020), afirma que a população se ressentiu, mais e mais, à medida em que se viu em meio ao crescimento das desigualdades, causa do descrédito na política tradicional de então, motivando a adesão ao progressismo, já visto no período que sucedeu o golpe militar. De outro modo, tornou-se muito importante munição, na lógica do poder de dominação social, a economia neoliberal.
Vivemos um momento em que o mundo conectado pelas novas tecnologias, especialmente pelos algoritmos inteligentes como fatores que ampliam o alcance do discurso neoliberal e sua lógica de dominação com efetividade, nos lugares mais remotos, antes não alcançados.
Ao que nos parece, são linhas mal traçadas da mesma história de dominação da maioria, a serviço da ascensão e do poder econômico, de poucos. Situação essa, agravada pela pandemia da Covid-19, quando a população brasileira se viu fragilizada pela doença e os efeitos, causados pela falta de políticas públicas eficientes, no combate a disseminação do vírus, tanto quanto o aumento da miséria, que assolou o país.
E a pergunta que não quer se calar, continua sem resposta: como o discurso neoliberal se mantem ao longo do tempo, apesar de todas as contradições?
Como diz uma colega de turma: [..] até quando cavalgaremos em terras hostis, conduzindo um cavalo de Tróia?
Na tentativa de responder ao questionamento levantado nesse texto, a tomados pelas ideias de Silva Júnior (2020), buscamos nas afirmações de Fraser e Jaeggi (2020), um refletor, capaz de iluminar o entendimento do leitor acerca de como o discurso neoliberal se mantem ao longo do tempo, por meio de suas argumentações de contestação ao capitalismo, historicamente marcado, pelo olhar de ambas sobre as lutas de classe e lutas de fronteira.
Nessa conversa entre Fraser e Jaeggi (2020), que deu origem a publicação da obra “Capitalismo em Debate”, ambas compartilham de mesmo pensamento quanto ao Marxismo tradicional, no qual “a luta de classes era a forma de conflito mais característica e potencialmente emancipatória”, historicamente organizada pelas estruturas capitalistas.
No entanto, é Fraser quem acredita que sua visão de capitalismo vai além de um sistema econômico. Para a autora, o tema central da luta social se coloca como cenário principal onde a fronteira que divide a reprodução social da produção econômica se encontram. Em sua concepção, o capitalismo contemporâneo abrange um espectro mais visível e inteligível, do ponto de vista de contestação social, do que os modelos ortodoxos. Apresentando essa visão sob três aspectos.
No primeiro aspecto Fraser chama a atenção para as estruturas existentes nas classes. Que nas fronteiras não é diferente, motivo de lutas. O que muda então? Nas classes, as lutas são por poder econômico e, nas lutas de fronteiras, por visibilidade e reconhecimento, o poder “não econômico.
Continuando, no segundo aspecto, Fraser contesta o modo como determinadas abordagens tentam dissociar, o capitalismo, do patriarcado, da supremacia branca, uns dos outros. Para a autora, se qualquer uma dessas formas objetivam a dominação, seja pela raça, cor, gênero e classe, não há o que diferenciar, está tudo ancorado numa única formação social – no capitalismo, amplamente compreendido, como ordem social institucionalizada.
Por fim, no terceiro aspecto, discorda de sua parceira de conversa, Jaeggi, ao refutar sua afirmativa, de que qualquer um dos modos de dominação seja de caráter apenas ‘funcional”, visando a acumulação de capital. Para Fraser, em qualquer instância há contradições. Ora, oferecendo condições de acúmulo de bens. Ora, constituindo-se como [..] espaços de contradição, potencial crise, luta social e normatividade “não econômica”. (FRASER, JAEGGI, 2020).
Enfática, Fraser reafirma que, para ela, não há separações claras entre essas lutas, porque se interseccionam e são determinadas pelas mesmas linhas divisórias de raça/ etnia, gênero e classe. Haja vista, como se realiza a distribuição de bens e capital na sociedade contemporânea, cujo lado da fronteira em que um cidadão se enquadra, independentemente de suas qualidades implicará em sua ascensão social ou não. Fraser e Jaeggi , enfatizam que embora, essa fronteira não seja invisível, o modelo estruturante de classes permanece intacto quanto ao propósito de dominação social consolidado pelas classes detentoras do poder, há décadas. Também concordam que para além da obra de Marx ainda há muito para se discutir sobre lutas de classes.
Agora, apoiados pelas ideias de Fraser, Jaeggi (2020) e Silva Júnior (convido os leitores a refletirem sobre o momento em que passamos, num cenário cujo pano de fundo ainda é a pandemia causada pelo vírus Covid19, no qual presenciamos tantas evoluções, sejam pelas novas tecnologias que possibilitaram a descoberta das vacinas ou por aquelas que deram suporte à continuidade do trabalho e dos estudos remotamente.
Continuando, como pílula provocativa, sugiro a leitura das 10 Recomendações para planejar soluções de aprendizagem a distância[1], feitas pela UNESCO (2020) e as 10 Tendências na Educação feitas apresentadas por Andreas Schleicher , da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico[2], a fim de continuarmos essa conversa, por esse canal.
Até breve!
REFERÊNCIAS
FRASER, Nancy, JAEGGI, Rahel. Capitalismo em debate: uma conversa na teoria crítica.; tradução Nathalie Bressiani. 1ª. Ed. São Paulo. Boitempo, 2020, pp. 185-242
________________ Intersecções: perspectivas para um capitalismo pós-racista e pós-sexista. Disponível em: https://boitempoeditorial.files.wordpress.com/2020/03/capitalismo-em-debate_livreto_para-download.pdf. Acesso em: 14 dez. 2021.
SAFATLE, Vladimir. JUNIOR, Nelson da Silva, DUNKER, Christian. (orgs). Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico. Belo Horizonte: Autêntica,2020, pp. 255-322.
SCHLEICHER, Andreas. Educação: 10 tendências que estão mudando o ensino em todo o mundo. Disponível em
UNESCO. COVID-19 : 10 recomendações para planejar soluções de aprendizagem a distância. Disponível em: https://pt.unesco.org/news/covid-19-10-recomendacoes-planejar-solucoes-aprendizagem-distancia. Acesso em 06 Dez. 2021.
[1] COVID-19 : 10 recomendações para planejar soluções de aprendizagem a distância.
https://pt.unesco.org/news/covid-19-10-recomendacoes-planejar-solucoes-aprendizagem-distancia
[2] Educação: 10 tendências que estão mudando o ensino em todo o mundo.