O BRASIL DA BARBÁRIE À DESUMANIZAÇÃO NEOLIBERAL
Ninguém se importa!
Com esta frase inicio esta escrita que se pauta na leitura de Nelson da Silva Junior em seu texto O Brasil da barbárie à desumanização neoliberal: do Pacto edípico, pacto social, de Hélio Pellegrino, ao “E daí?”, de Jair Bolsonaro.
Vivemos um momento histórico onde o caos e a barbárie ganham proporções que nos faz perder a esperança em vivermos uma sociedade mais justa.
O poder e o individualismo tornam os sujeitos cada vez mais engajados por alcançar lugar de destaque em todas as áreas da vida o que faz com que adoeçam no meio desse processo onde ele se assume como único responsável por seu sucesso ou seu fracasso.
De acordo com o autor o discurso do neoliberalismo propõe que a vida social deva ser administrada tecnicamente o que coloca a dimensão afetiva do humano em segundo plano.
Os sujeitos não se atentam para a lógica que os coloca como mera engrenagem de um todo que não pode parar e que se por algum motivo houver uma falha nessa engrenagem este sujeito, ou melhor dizendo, esta “peça” é rapidamente descartada e substituída por outra que dê continuidade ao processo de maneira eficaz.
Dessa forma, ressalta Silva, que cada vez mais o adoecimento psíquico se vê adentrando as clinicas psiquiátricas e psicanalíticas que tem se confrontado com o grande sofrimento humano.
Contudo um processo novo vem surgindo na sociedade neoliberal, sobretudo nos países capitalistas, que após o período de ditadura onde havia um clamor pela liberdade, hoje vem apresentando forte tendência ao caráter social conservador pautado na qualidade total, na autogestão e no consumo.
Com uma observação mais atenta vemos que o mesmo processo neoliberal que vemos na economia é também reproduzida em todas as áreas da sociedade, e não poderia ser diferente na educação.
O mesmo “E daí?” que presidente da republica bradou ao ser questionado sobre mortes que se multiplicavam dia após dia durante a pandemia de covid-19, é o que vemos em certos aspectos dentro das escolas neste momento de retorno as aulas com a mitigação da doença, ou seja, diminuição do número de mortes e internações.
Professores estão sob pressão para lidar com alunos em aulas presencialmente e aqueles que estão em atividades remotas por serem considerados de alto risco para Covid-19 ou ainda aqueles que as famílias não sentiram segurança em envia-los para escola.
Estes profissionais têm sido cobrados quanto ao investimento em manter contato com todos garantindo os direitos de aprendizagem e avaliando os resultados obtidos pelos educandos.
Contudo as redes não buscaram oferecer recursos para que este processo de educação híbrida fosse adaptado para a nova realidade. Os profissionais da educação precisam buscar ferramentas para que esta adequação ocorra.
Os mecanismos são sutis neste processo de dominação, pois as redes tem buscado ofertar curso de formação continuada, dentro do horário de trabalho onde buscam implantar a sensação de estar preocupada com a saúde emocional dos profissionais oferecendo formação onde ensinam como desenvolver a empatia e a resiliência e incutindo a visão de que cada um é responsável por entender a dor do outro ajudando a superar os desafios bem como superar suas próprias dores. E a como a cereja do bolo educadores são forçados a acreditar que se não esta dando certo é por que eles ainda são se apropriaram das características emocionais que fará com que consigam realizar seu trabalho da melhor maneira.
Em uma formação dessas empresas de consultoria que ganham milhares para garantir que a solução para educação está em cada profissional, escancarando a cultura meritocrata, foi perguntado ao grupo dentre nós quem era o colega pelo qual tínhamos admiração pelo trabalho e por qual motivo?
Alguns nomes e características foram citados, em seguida o mediador conclui: “estes colegas que vocês mencionaram são exemplos a serem seguidos, estou certo de que quando vocês se virem perdidos diante de uma tarefa devam pensar: como o fulano agiria nesta situação, daí tenho certeza que agindo como essa pessoa faria é possível que seu trabalho será muito bem feito!”
Assim as sutilezas do processo neoliberal é imposto sem que os sujeitos se deem conta e submetidos a ele, assumem total responsabilidade pelos resultados.
Este doloroso processo psíquico é devastador, são altos os índices que apontam o adoecimento dos profissionais da educação que facilmente são apontados por seus pares como fracos ou como pouco comprometidos com o trabalho.
É preciso um olhar atendo para este processo opressor oculto na sociedade neoliberal que destrói emocionalmente os sujeitos e ainda o responsabiliza por isso.
REFERÊNCIA
SILVA JUNIOR, NELSON. O Brasil da Barbárie à desumanização neoliberal: do “Pacto edípico, pacto social”, de Hélio Pellegrino, ao “E daí?” de Jair Bolsonaro. In:Neoliberalismo como Gestão do SofrimentoPsíquico. São Paulo: Editora Grupo Autentica. 2021. p. (255-283)