Nzambi, o capital e o meio ambiente…

Recentemente li uma publicação a respeito de uma jovem queniana chamada Nzambi, que me fez despertar algumas reflexões em relação a experiência que tive enquanto pesquisador na área de materiais.
A publicação falava sobre Nzambi: Diante do incomodo pelo descarte de resíduos plásticos na capital de seu país, Nairóbi, a jovem engenheira de materiais e pesquisadora, desenvolveu uma espécie de tijolo com base na reutilização desses resíduos.
Primeiramente, parabéns a Nzambi! Bela iniciativa.
Sobre as minhas reflexões: Na medida em que avançam discussões a respeito dos impactos ao meio ambiente e sobre o papel da indústria no descarte e reaproveitamento de materiais e resíduos, o capital também aumenta o incentivo financeiro em pesquisas como a de Nzambi.
Lambe Lambe – Carlos Dantas
Na construção civil, por exemplo, pesquisas onde se comprove o aumento no consumo de cimento na produção, uso ou manutenção de materiais, como o desenvolvido por Nzambi, ganham espaço. Contraditoriamente, a indústria do cimento é uma das maiores emissoras de gases poluentes no mundo, portanto, não adiantar usar resíduos na produção de materiais e consequentemente aumentar a emissão de gases poluentes na atmosfera, por meio do consumo do cimento nesse tipo de material.
Para se ter uma ideia a respeito dessa produção e do consumo do material, segundo a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) somente no ano de 2020, no Brasil, o setor acumulou um total de 60,8 milhões de toneladas vendidas do aglomerante, isso indica um aumento de 10,9% em relação ao ano anterior. Não precisamos ser especialistas em economia ou engenharia para identificarmos que há algo errado.
Sobre mim: Durante a graduação, desenvolvi um projeto de iniciação científica que visava a reutilização de resíduos de construção civil, curiosamente esse projeto foi financiado por uma organização ligada a indústria do cimento. Sobre a conclusão do projeto? Havia aumento significativo no consumo do aglomerante.
O título de “selo verde” presente em determinados materiais produzidos por essa indústria, pode indicar apenas mais uma estratégia do capital para a manutenção do seu lucro, assim como, também o faz em outros segmentos da sociedade como na educação por exemplo.
A reflexão diz respeito a adaptação do capitalismo a uma agenda global.
No caso de Nzambi, a agenda ambiental supostamente foi adaptada para a subsistência do capital, indicando a perversidade desta lógica que submete-se a “entrega” do meio ambiente em troca do lucro.