Indústria Cultural e sua influência no desenvolvimento dos hábitos alimentares de docentes e estudantes

Adorno e Horkheimer introduzem o conceito de Indústria Cultural, destacando como a cultura de massa é produzida e disseminada de forma industrializada, com o objetivo de padronização e lucro.

A obra crítica e provocativa oferece insights profundos sobre os impactos da cultura de massa na sociedade contemporânea e convida à reflexão sobre a alienação, a manipulação e a resistência frente à Indústria Cultural.

A relação entre a Indústria Cultural de Theodor W. Adorno e as Políticas Públicas na área de Educação são complexas e multifacetadas. Adorno e outros teóricos da Escola de Frankfurt argumentam que a cultura de massa produzida pela Indústria Cultural tende a promover a conformidade e a alienação, em detrimento da criatividade e da reflexão crítica.

Isso pode ter implicações significativas para as Políticas Públicas na área de Educação, uma vez que a ênfase em padrões de produção cultural homogêneos pode influenciar os métodos de ensino, os currículos escolares e as formas como o conhecimento é transmitido aos estudantes. É importante considerar criticamente como a Indústria Cultural afeta a educação e como as políticas públicas podem mitigar seus efeitos negativos, promovendo uma educação mais crítica, diversa e emancipatória.

A Indústria Cultural refere-se ao conjunto de meios de comunicação de massa e produtos culturais que são produzidos em série e consumidos em larga escala. Segundo Adorno, a Indústria Cultural tem um papel crucial na formação e manipulação das necessidades e desejos dos indivíduos.

Em relação à alimentação de adultos e crianças, a Indústria Cultural influencia de várias maneiras:

  • *Propaganda e Publicidade:* A Indústria Cultural utiliza a publicidade para moldar os hábitos alimentares, promovendo produtos alimentares específicos como desejáveis e essenciais. Isso é feito através de anúncios que frequentemente destacam alimentos com alto teor de açúcar, sal e gorduras, associando-os a sentimentos positivos, prazeres instantâneos e status social.
  • *Estilos de Vida:* Através de programas de televisão, filmes e mídias sociais, a Indústria Cultural promove certos estilos de vida que estão intimamente ligados ao consumo de alimentos específicos. Por exemplo, o fast food é muitas vezes retratado como uma escolha conveniente e moderna, especialmente em contrapartida a refeições caseiras que podem ser apresentadas como antiquadas ou trabalhosas.
  • *Consumo Infantil:* As crianças são particularmente vulneráveis à influência da Indústria Cultural. Personagens de desenhos animados, super-heróis e celebridades são frequentemente usados em campanhas publicitárias para atrair a atenção das crianças, criando um vínculo emocional com os produtos alimentares. Isso não só influencia as crianças a desejarem esses produtos, mas também pressiona os pais a comprá-los.
  • *Normalização de Hábitos:* A Indústria Cultural ajuda a normalizar certos hábitos alimentares. Comerciais repetidos, slogans de marca e o constante bombardeio de imagens de alimentos pouco saudáveis contribuem para a percepção de que consumir esses produtos é normal e aceitável, levando a uma aceitação geral de dietas menos saudáveis.
  • *Cultura de Consumo:* A Indústria Cultural incentiva uma cultura de consumo onde a alimentação deixa de ser apenas uma necessidade biológica e passa a ser uma forma de expressão pessoal e social. Alimentos e bebidas são frequentemente usados para significar identidade, pertencimento a um grupo social ou adesão a uma moda ou tendência.

Aqui posso citar minha pesquisa de mestrado “Políticas Públicas de alimentação escolar e sua influência na cultura alimentar dos educadores da rede municipal de São Paulo” e quanto essa “Indústria Cultural” influenciou e até hoje influencia na alimentação das famílias, estudantes e educadores, a pesquisa destaca a importância de educar sobre hábitos alimentares saudáveis desde a infância.

A pesquisa demonstra que  muitos educadores não participaram de  formações em Educação Alimentar e Nutricional,  o que indica a necessidade de promover programas de formação nessa área, pensando a  capacitação docente para o tema. Isso também está relacionado à história das políticas de  alimentação escolar, que dificilmente propõem formação dos educadores nesse  campo.  

Os  desafios enfrentados  pelos educadores no momento das refeições na escola  são diversos e incluem questões como o tempo  insuficiente, resistência dos alunos (e até mesmo  dos docentes) a novos sabores e o desperdício de  alimentos. Entende-se que esses desafios  estejam intimamente relacionados à gestão  educacional das políticas públicas de alimentação  escolar, que influenciam o cardápio, a disponibilidade de tempo e os recursos para a  alimentação nas escolas.  

A pesquisa também aponta que a relação  dos educadores com a alimentação pode afetar  sua possibilidade de influenciar os hábitos  alimentares das crianças na escola, uma vez que  pouco participam do momento da alimentação  das crianças, tendo em vista coincidir com seu  intervalo de trabalho. Isso sugere que a  formação e a conscientização dos educadores  sobre a importância da EAN podem ter um  impacto significativo na promoção de hábitos  alimentares saudáveis. 

 Dessa maneira, os resultados deste estudo não apenas contribuem para o conhe-cimento acadêmico, mas também informam o aprimoramento contínuo do Programa de Alimentação Escolar (PAE) da cidade de São Paulo e a promoção de ações de EAN – entre outras políticas públicas associadas.

Criticamente, Adorno argumentaria que a Indústria Cultural promove uma falsa consciência, levando os indivíduos a aceitar passivamente a cultura de consumo imposta e afastando-os de práticas mais autênticas e autossustentáveis de alimentação. Essa influência não só molda os hábitos alimentares imediatos, mas também tem implicações em longo prazo para a saúde pública e bem-estar social.

Referências Bibliográficas

ADORNO, Theodor W. Teoria da Semiformação. Educação e Sociedade, ano 17, nº 56. 1996.

ADORNO, Theodor W; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.

Maria de Fátima de Brum Cavalheiro

Mestranda em Gestão e Práticas Educacionais pela UNINOVE. Atuou como Coordenadora na Coordenadoria de Alimentação Escolar da Secretaria Municipal de Educação (PMSP). Atua na Rede Pública Educacional há 36 anos, já esteve como Gestora do Centro Educacional Unificado (CEU) Aricanduva, Diretora da Divisão dos CEUs e da Educação Integral (DICEU), Diretora Regional de Educação da DRE São Mateus e foi Coordenadora da Coordenadoria dos CEUs na SME. Possui pós graduação em Estética e História da Arte, Arte Educação e Gestão e Planejamento Escolar. Sua formação complementar envolve as áreas de Educação Inclusiva, Cultura de Paz, Saúde e Artes. Possui graduação em Pedagogia e Educação Física Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Administração Educacional e Políticas Públicas. Atualmente é Gestora do CEU Vila Curuça.

One thought on “Indústria Cultural e sua influência no desenvolvimento dos hábitos alimentares de docentes e estudantes

  • 18/10/2024 em 10:21
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    Excelente conteúdo. Nos leva a refletir sobre como a Indústria Cultural influencia em nossas vidas, sem sequer nos darmos conta. Parabéns pelo estudo, sobretudo, a forma séria e respeitosa como tratou e expôs esse prioritário assunto. Obrigado!

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