Adorno, Teoria Crítica da Sociedade e Comunicação
Theodor Adorno, um dos principais teóricos da Escola de Frankfurt, teve uma influência significativa nos estudos de Comunicação e Comunicação Social por meio de sua crítica à indústria cultural e à sociedade de massa.
Adorno trouxe a discussão de como a cultura popular pode ser uma forma de controle social que impede a crítica e a verdadeira expressão artística, seu trabalho com Max Horkheimer em Dialética do Esclarecimento é um marco na análise da razão na modernidade, destacando como a razão instrumental pode levar à dominação e à barbárie, em vez de emancipação e liberdade.
Adorno via a comunicação não apenas como um meio de transmissão de informações, mas como uma arena para a luta de poder e influência cultural. A Teoria Crítica de Adorno enfatizou a necessidade de uma consciência reflexiva que pudesse resistir às formas de dominação presentes na cultura de massa.
A influência de Adorno na Comunicação Social é evidente na maneira como os estudiosos abordam a análise de mídia e cultura atualmente. De acordo com Adorno (2009, p.14), falar de cultura é contrário à cultura, pois, ao denominarmos a cultura a estamos categorizando no reino da administração, sendo este um conceito absolutamente propício à administração industrializada. Dessa forma, quando falamos em cultura também estamos falando em administração, determinando os modelos para a classificação e organização da cultura.
Segundo Adorno (2009, p.31), a cultura industrializada ensina e estimula a condição em que a vida danificada pode ser tolerada. Adorno (2009, p.5), relatou que os meios audiovisuais de cultura, como o cinema e o rádio, não precisavam mais se apresentar como arte, funcionando com fins econômicos, com o intuito proposital de propagar ideias que não emancipam, e isso ele define como a indústria cultural, ou seja, uma indústria de reprodução em massa que dissemina ideias padronizadas para seu público.
Nesse sentido, para Adorno (2009, p.5), a racionalidade técnica é a racionalidade da própria dominação, assim a produção cultural não serve à arte, mas apresenta uma função econômica e de dominação produzindo sujeitos adaptáveis à autoridade implementada pela esfera econômica, que esvazia o homem e impõe sua submissão às tecnologias.
Dessa forma, a indústria cultural não promove a transformação necessária na sociedade, causando em seus consumidores uma superficialidade e reificação, que não dá conta de formar um sujeito emancipado. A indústria cultural é uma forma de dominação ideológica que padroniza os produtos culturais e as necessidades dos consumidores, e elimina a diversidade, a criatividade e o pensamento crítico.
Na obra Dialética do Esclarecimento, Adorno e Horkheimer (1997) apresentaram a indústria cultural, que englobava o cinema, o rádio, as revistas, a publicidade e outros meios de comunicação de sua época, porém o texto permanece atual para analisar as mídias atuais como, por exemplo, a internet.
Adorno e Horkheimer (1997, p.59) analisaram como esses produtos seguem fórmulas repetitivas e previsíveis, que acabam reduzindo a complexidade e a diversidade da realidade e da experiência humana, mostrando como esses produtos criam uma ilusão de individualidade e de escolha, oferecendo variações de um mesmo modelo, que acabam induzindo a uma atitude passiva e ao conformismo nos consumidores, que passam a se identificar com os estereótipos e os valores que são impostos por essa indústria cultural.
Para Adorno e Horkheimer (1997, p.58) a indústria cultural é uma expressão da razão instrumental e do esclarecimento, pois promove a mistificação e alienação das massas, ao invés de libertar as pessoas da superstição, da opressão e da dominação. Os autores relatam como a indústria cultural manipula as emoções, os valores e as ideologias das pessoas, criando uma falsa consciência e uma cultura homogênea e alienada. E os bens culturais que são padronizados para as massas impedem o desenvolvimento da consciência crítica e da autonomia dos indivíduos.
O conceito de Adorno de indústria cultural é frequentemente utilizado para examinar como a mídia e a comunicação podem ser usadas para manipular a sociedade. Além disso, a Escola de Frankfurt, em geral, e Adorno, em particular, são creditados por estabelecer as bases para os estudos culturais e para a crítica da mídia como práticas acadêmicas.
Costa (2004) apresentou uma reflexão crítica sobre a indústria cultural e seu impacto nos estudos de comunicação social. Segundo o autor, a teoria originada na obra Dialética do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer, argumenta que existe uma contradição fundamental entre os conceitos de cultura e indústria. A indústria cultural é acusada de submeter tanto a cultura erudita quanto a popular à lógica capitalista, transformando-as em mercadorias e alterando seu significado estético e simbólico para apelar às massas. Isso resulta em uma cultura que é frequentemente sensacionalista e grotesca, voltada para o prazer imediato em vez de um valor cultural duradouro.
Além disso, o autor sugere que a cultura, dentro dos meios de comunicação, foi reduzida a uma ferramenta para gerar publicidade e lucro, perdendo o que poderia ser entendido como sua qualidade intrínseca e sendo confundida com a produção de conteúdo comercial, fazendo uma crítica à abordagem dos teóricos de comunicação contemporâneos que, ao ignorarem a macroestrutura da produção simbólica, falham em reconhecer a profundidade das questões levantadas pela Escola de Frankfurt, focando-se apenas no aspecto imediato da informação e da notícia.
O autor discutiu a complexidade das pesquisas sobre a recepção de mensagens na cultura de massa, destacando a tendência de teorias funcionalistas que não capturam a totalidade das mediações estruturais envolvidas, criticando a abordagem fragmentada que ignora o caráter mimético e os efeitos moduladores sobre a sensibilidade e os padrões culturais.
Costa (2004) apontou para a monopolização técnica dos meios de comunicação e a consequente tensão com os interesses societários. A qualidade frequentemente reduzida das mensagens e sua conformidade com a cultura mediana são vistas como resultado da racionalização industrial, que busca despertar o desejo por meio de apelos sensoriais e emocionais, abordando a transnacionalização do estilo publicitário e do estilo jornalístico, que segue uma lógica de mercado de forma sistêmica, influenciando a construção da informação e a hierarquização das notícias.
Correia (2005, p.9) apresentou em sua obra sobre sociedade e comunicação uma análise crítica sobre como a midiatização influencia a relação entre indivíduo e sociedade, destacando o papel crescente dos meios de comunicação na formação de normas, imaginários e visões de mundo. Observou que a aceleração da midiatização afeta a distinção entre o público e o privado, colocando em foco uma suposta individualidade, que promove o pluralismo normativo e a fragmentação cultural. Essa ênfase na individualidade é examinada em relação à experiência coletiva na esfera pública. Além disso, o texto explora como os seres humanos interpretam a realidade através dos significados adquiridos por meio da interação social e da mediação simbólica, que possuem aspectos cognitivos e prescritivos.
A linguagem é considerada não apenas uma ferramenta, mas um elemento estrutural nas relações sociais, com a mediação linguística sendo fundamental na forma como experienciamos o mundo. Essa perspectiva sublinha a importância da linguagem na constituição social e na experiência humana. A análise da mediação como um processo fundamental na formação cultural, socialização e desenvolvimento da personalidade foi trazida por Correia (2005, p.10), que argumentou que a produção simbólica, especialmente aquela realizada pela indústria cultural e de mídia, desempenha um papel cada vez mais significativo nesse processo.
O autor discute diferentes abordagens teóricas sobre a mediação, em particular a mediação cultural, e destaca as teorias de Adorno, que sugerem que a mediação leva a uma reificação das relações sociais, tornando-as mais objetificadas e menos humanizadas. Essa perspectiva crítica aponta para a transformação das interações sociais em relações mais frias, influenciadas pelo crescente impacto da indústria cultural na vida cotidiana.
Para Correia (2005, p.22) a Escola de Frankfurt, com destaque para os teóricos Adorno e Horkheimer, enfatizou a importância de uma perspectiva crítica diante de um mundo cada vez mais alienante, pois propuseram a Teoria Crítica da Sociedade como um meio de defender a reflexão e o pensamento crítico contra a aceitação acrítica dos fatos, promovida pelo positivismo, no âmbito do pensamento hegemônico.
A Teoria Crítica busca integrar o conhecimento científico sobre a sociedade com a reflexão filosófica, desafiando tanto as patologias sociais quanto os modos de pensamento que sustentam tais sociedades disfuncionais. A Escola de Frankfurt criticou a razão instrumental, que foi vista não mais como um meio de libertação humana, mas como um instrumento de dominação.
Correia (2005, p.22) destacou que Adorno e Horkheimer argumentaram que, apesar da aparente diversidade de produtos culturais, a indústria cultural contribui para a homogeneização da experiência individual, impondo uma identidade uniforme em todos os aspectos da vida cultural.
Rüdiger (2009) apresentou uma análise crítica sobre a relação entre cultura, linguagem e estruturas sociais, argumentando que a cultura e a linguagem são dependentes de estruturas sociais concretas, como o trabalho e o poder social, que influenciam e moldam esses planos hermenêuticos. Essas estruturas são vistas como sistemas práticos que afetam mais diretamente os corpos dos indivíduos do que suas mentes, e que devem ser estudadas por meio de modelos teóricos analíticos.
Além disso, sugeriu que as relações sociais só podem ser compreendidas por meio da interação entre linguagem, trabalho e poder, com a cultura sendo apenas um dos fatores nessa equação, enfatizando que, em Adorno, a ação social é mais fortemente influenciada pelas instituições do que por elementos imediatos e isolados, desafiando a noção de que o social pode ser explicado em termos gerais por um único fator.
Adorno estava particularmente interessado em como a mídia de massa poderia moldar a percepção e a consciência das pessoas, muitas vezes de maneiras que reforçavam as estruturas de poder existentes. Por exemplo, em sua obra A Indústria Cultural: O Iluminismo como Mistificação das Massas, ele explora como a cultura produzida em massa serve para perpetuar a passividade e a conformidade, em vez de fomentar o pensamento crítico e a individualidade.
A relevância de Adorno para a comunicação contemporânea também pode ser vista na maneira como ele antecipou algumas das preocupações atuais sobre a mídia e a sociedade. Por exemplo, sua crítica à indústria cultural prenuncia debates sobre a homogeneização da cultura e a perda de diversidade cultural na era da globalização.
Da mesma forma, sua análise da razão instrumental antecipa críticas à racionalização e à quantificação em muitos aspectos da Comunicação Social, como a obsessão por métricas e análises em marketing e publicidade.
O legado de Adorno na Comunicação e na Comunicação Social é profundo e duradouro. Ele forneceu ferramentas críticas para entender a complexa relação entre cultura e sociedade, fortemente utilizadas pela mídia, seu trabalho continua a inspirar pesquisadores e teóricos a questionar e a desafiar as estruturas de poder que moldam nossa comunicação e nossa cultura.
ADORNO, Theodor Ludwig Wiesengrund; HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores. 1997.
ADORNO, Theodor Ludwig Wiesengrund. Indústria Cultural e Sociedade, 5 edição. São Paulo: Paz e Terra, 2009.
CORREIA, João Carlos. Sociedade e Comunicação: estudo sobre jornalismo e identidades Covilhã: Editora Universidade da Beira Interior 2005.
COSTA, Belarmino Cesar Guimarães da. Teoria Crítica e Estudos em Comunicação: Atualidade do Pensamento Frankfurtiano. In: XXVII Congresso Brasileiro de Pesquisadores da Comunicação – INTERCOM, 2004, Porto Alegre – RS. INTERCOM 2004 – Comunicação, Acontecimento e Memória, 2004. v. 1. p. 109-109.
RÜDIGER, Francisco. Ciência social crítica e pesquisa em comunicação: trajetória histórica e elementos de epistemologia. Porto Alegre: Gattopardo, 2009.